miércoles, 24 de junio de 2009

Chimarrão do Estrivo


Mate do estrivo bendito,
Amargo que a gente chupa,
Já de poncho na garupa
Para a tropeada do mundo,
Algum mistério profundo
Te revirou do avesso,
Porque és doce no começo
E tão amargo no fundo!

Quantas vezes te chupei
Junto ao cavalo encilhado,
Tendo a china no costado
Tristonha na despedida,
Sem pensar - velha bebida! -
Que ao te golpear sem rebuços,
Ia bebendo os soluços
Daquela prenda querida!

Velho mate carinhoso,
Encilhado de erva mansa,
Quando uma China te alcança,
Olhando quieta pra gente,
Deve pensar, certamente,
Que depois de um beijo longo,
O adeus é como o porongo
Que fica frio de repente!

Mil vezes te amanunciei,
No pingo meio oitavado,
Entre um pedido, um recado,
De uma mana ou de uma prenda...
Pois sempre alguém recomenda
Quando a gente é meio novo
Que não se meta em retovo
Junto aos gaudérios de venda!

E depois quando parti-me
Do Pago, campeando a sorte,
Eu te chupei, mate forte,
Bem junto do parapeito,
E fui saindo, sem jeito,
Dando rédeas ao gateado,
Mas te guardarei bem cevado
No porongo de meu peito!

Decerto é por isso mesmo
Que quando evoco a Querência
Eu te sinto, com violência,
Nas veias em atropelo,
E até me ouriça o cabelo.
Pois do meu ser primitivo,
Aquele mate do estrivo
Foi o último sinuelo!

E ao bom Deus que é rio-grandense
Sempre peço, enquanto vivo,
Um chimarrão para o estrivo
Quando chegar o meu fim.
E se Ele quiser assim,
Vá destacando uma china
Que lá na Estância Divina
Prepare o mate pra mim!


Poema de Jayme Caetano Braun,
Foto de Eduardo Amorim.

3 comentarios:

Fernando Terreno dijo...

Muy lindos, tanto este como el otro. Qué sorpresa (para mi que recién caigo en esto al leerlos)encontrar letras de milongas riograndenses. ¿eso del pingo oitavado, se refiere a que los versos son octasílabos?
Un abrazo

Se puede cantar con la música de "Mi poncho" una milonga que cantaba Amalia de la Vega.

mateína dijo...

Fernando:
por intuición no más, se me ocurre que el pingo está como de costado, ochavado.

Felipe.
estás poniendo cosas tan lindas que no quiero ni "hablarte" para que no te desaparezcas como un duende:)

Corregime la traducción
Bien sabes que yo leo portugués empleando mis dotes de adivinación y muchas veces acierto, pero esta vez ... no sé


el abrazo de siempre

y no te olvides de poner fotos de POA.Vos tenés unas preciosas en tu blog!

Felipe Martini dijo...

Ta perfecta la traducción de Mateína.

y bueno, sólo escribo acá por dos motivos:
para enriquecer la interné con las cosas del Sur y para leer recados de ustedes.

saludos invernales a todos, ya pondré cosas nuevas.