viernes, 24 de octubre de 2008

J. Simões Lopes Neto

O maior escritor regionalista do Rio Grande do Sul, nasceu em Pelotas, em 9 de março de 1865, na Estância da Graça, a 29 quilômetros da cidade e de propriedade de seu avô paterno, João Simões Lopes Filho

J. Simões Lopes Neto publicou três livros em vida, todos lançados em Pelotas, pela Livraria Universal: Cancioneiro Guasca (1910), Contos Gauchescos (1912), Lendas do Sul (1913). A julgar, porém, pelos sonhos literários que acalentou, sua bibliografia era para ter sido bem mais volumosa. Ele próprio chegou a anunciar, por intermédio de seu editor, a existência de nada menos de seis outros livros, dois "a sair" (Casos do Romualdo e Terra Gaúcha) e quatro "inéditos" (Peona e Dona, Jango Jorge, Prata do TaióPalavras Viajantes).
Embora as expressões "a sair" e "inéditos" estejam a indicar que todos os livros já existiam, em originais, é fora de dúvida que apenas um - Casos do Romualdo - chegaria a aparecer em vida do autor, ainda assim na forma de folhetim, e, em livro, apenas em 1952. Passados quarenta e dois anos da morte do escritor, apareceria o primeiro volume de Terra Gaúcha (os originais do segundo volume foram extraviados). Temos assim que, dos seis títulos dados naquela ocasião, como "a sair" e "inéditos", somente Casos do Romualdo havia sido escrito, nenhum outro existindo na condição de obra pronta e acabada para ser composta e impressa ou para entrar efetivamente no prelo. Quantos aos demais, foi profudamente lamentável que não tivessem passado de projetos irrealizados, malogro esse que cresce de vulto em relação a Peona e Dona e a Jango Jorge, sonhados ambos nos moldes apaixonantes de romances regionalistas. Um caso... não do Romualdo, mas do próprio Capitão João Simões. Bastava ter continuado a dar trela a Blau Nunes, o vaqueano. Não lhe faltaria gênio criador. Nem estilo. O de sua marca e sinal daria soberanamente. E com fartura.
Morreu em 14 de junho de 1916, em Pelotas, aos cinqüenta e um anos, de uma úlcera perfurada. Para arrecadar algum dinheiro, Dona Velha fez um leilão de toda a documentação do marido, mas ninguém se interessou. Então toda a obra do escritor se dispersou entre colecionadores, bibliotecas e museus.
Atualmente, J. Simões Lopes Neto e sua prosa ultrapassam os limites territoriais .

http://pelotas.ufpel.edu.br/

MATE AMARGO, MUITO SÉRIO

…...........Já os peões apertam sobre a mangueira. Eu bato as palmas e corro, entusiasmado, para ajudar.

A recolhida vai entrar; nisto os dois machos volvem a cabeça para o campo, trocando a orelha, farejando alto.

- Vão disparar! Ataca!...

Não vê!... Um dos campeiros já está de laço armado, outro balanceia as boleadeiras, pronto para o repente...

- Orah! Orah! Orah!...

E entrou na encerra a soberba animalada.

Correm-se as varas da porteira; serena o tropel; os animais companheiros procuram-se; todos estavam molhados até os encontros; uns sacodem-se com violencia ou cheiram o chão, refolhando, e rebocam-se na terra revolvida e fresca; cruzam-se relinchos, coices, dentadas. Quase todas as cabeças, espantadas e curiosas, estão voltadas para a porteira; e na respiração ofegante e forte as ventas expelem rolos de vapor, do bafo; parece que os animais pitaram e estão atirando a fumaça dos cigarros!

O capataz, que tem se aproximado dá as suas ordens à peonada, que retira-se.

E voltando para mim:

- Eh! amigo! Tens muito serviço de campo, agora?

Não sei porque, mas no meio do meu contentamento - foi como um corisco! - de repente lembrei-me do colégio, do Mestrinho, da festa das bandeiras... E suspirei.

- Ah! seu Juca! disse. Que bom que eu fosse peão da estância... campeiro, domador!... Só assim não iria mais para o colégio... Não é?

O velho capataz deu dois últimos chupões à bomba, com esta revirou a erva na cuia e, vagarosamente, enquanto cevava um outro amargo, respondeu-me baixinho, porém muito sério:

- Amiguito! Não diga barbaridades!...


J. Simões Lopes Neto - (Do livro escolar "Terra Gaúcha", no prelo)

Fonte:
MOREIRA, Ângelo Pires. A outra face de J. Simões Lopes Neto : 1. volume. Porto Alegre : Martins Livreiro, 1983. 192p.

jueves, 23 de octubre de 2008

Um clássico.

— A la fresca!... que demorou a tal fritada! Vancê reparou?

Quando nos apeamos era a pino do meio-dia... e são três horas, largas!... Cá pra mim esta gente esperou que as franguinhas se pusessem galinhas e depois botassem, para depois apanharem os ovos e só então bater esta fritada encantada, que vai nos atrasar a troteada, obra de duas léguas... de beiço!...

Isto até faz-me lembrar um caso.. . Vancê nunca ouviu falar do João Cardoso?... Não?... É pena.

O João Cardoso era um sujeito que vivia por aqueles meios do Passo da Maria Gomes; bom velho, muito estimado, mas chalrador como trinta e que dava um dente por dois dedos de prosa, e mui amigo de novidades.

Também... naquele tempo não havia jornais, e o que se ouvia e se contava ia de boca em boca, de ouvido para ouvido. Eu, o primeiro jornal que vi na minha vida foi em Pelotas mesmo, aí por 1851.

Pois, como dizia: não passava andante pela porta ou mais longe ou mais distante, que o velho João Cardoso não chamasse, risonho, e renitente como mosca de ramada; e aí no mais já enxotava a cachorrada, e puxando o pito de detrás da orelha, pigarreava e dizia:

— Olá! Amigo! apeie-se; descanse um pouco! Venha tomar um amargo! É um instantinho.... crioulo?!...

O andante, agradecido à sorte, aceitava... menos algum ressabiado, já se vê.

— Então que há de novo? (E para dentro de casa, com uma voz de trovão, ordenava:) Oh! crioulo! Traz mate!

E já se botava na conversa, falava, indagava, pedia as novas, dava as que sabia; ria-se, metia opiniões, aprovava umas cousas, ficava buzina com outras...

E o tempo ia passando. O andante olhava para o cavalo, que já tinha refrescado; olhava para o sol que subia ou descambava... e mexia o corpo para levantar-se.

— Bueno! são horas, seu João Cardoso; vou marchando!...

— Espere, homem! Só um instantinho! Oh! crioulo, olha esse mate!

E retomava a chalra. Nisto o crioulo já calejado e sabido, chegava-se-lhe manhoso e cochichava-lhe no ouvido:

— Sr., não tem mais erva!...

— Traz dessa mesma! Não demores, crioulo!...

E o tempo ia correndo, como água de sanga cheia.

Outra vez o andante se aprumava:

— Seu João Cardoso, vou-me tocando... Passe bem!

— Espera, homem de Deus! É enquanto a galinha lambe a orelha!... Oh! crioulo!... olha esse mate, diabo!

E outra vez o negro, no ouvido dele:

— Mas, sr!... não tem mais erva!

— Traz dessa mesma, bandalho!

E o carvão sumia-se largando sobre o paisano uma riscada do branco dos olhos, como encarnicando...

Por fim o andante não agüentava mais e parava patrulha:

— Passe bem, seu João Cardoso! Agora vou mesmo. Até a vista!

— Ora, patrício, espere! Oh crioulo, olha o mate!

— Não! não mande vir, obrigado! Pra volta!

— Pois sim..., porém dói-me que você se vá sem querer tomar um amargo neste rancho. É um instantinho... oh! crioulo!

Porém o outro já dava de rédea, resolvido à retirada.

E o velho João Cardoso acompanhava-o até a beira da estrada e ainda teimava:

— Quando passar, apeie-se! O chimarrão, aqui, nunca se corta, está sempre pronto! Boa viagem! Se quer esperar... olhe que é um instantinho... Oh! crioulo!...

Mas o embuçalado já tocava a trote largo.

Os mates do João Cardoso criaram fama... A gente daquele tempo, até, quando queria dizer que uma cousa era tardia, demorada, maçante, embrulhona, dizia — está como o mate do João Cardoso!

A verdade é que em muita casa e por muitos motivos, ainda às vezes parece-me escutar o João Cardoso, velho de guerra, repetir ao seu crioulo:

— Traz dessa mesma, diabo, que aqui o sr. tem pressa!...

— Vancê já não tem topado disso?...

Simões Lopes Neto, Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

ESCRITOR E JORNALISTA

Josué Guimarães (RS, 1921-1986) é considerado um dos grandes escritores brasileiros do século XX, tendo deixado uma obra fundamental como romancista, jornalista e autor de histórias infantis e infanto-juvenis. Josué Marques Guimarães nasceu em São Jerônimo, no Rio Grande do Sul, em 7 de janeiro de 1921. No ano seguinte sua família mudou-se para a cidade de Rosário do Sul, na fronteira com o Uruguai,. Após a Revolução de 30 sua família foi para Porto Alegre, onde Josué Guimarães prosseguiu os estudos primários, completando o curso secundário no Ginásio Cru­zeiro do Sul, mesma escola onde estudou o escritor Erico Verissimo

Josué Guimarães lançou-se tardiamente – aos 49 anos – no ofício que o consagraria como um dos maiores escritores do país. Seu primeiro livro foi Os Ladrões, reunindo contos, entre os quais o conto que dá nome ao livro, premiado no então importante Concurso de Contos do Paraná). Sua obra – escrita em pouco menos de 20 anos – destaca-se como um acervo importante e fundamental. Democrata e humanista ferrenho, Josué Guimarães foi sistematicamente perseguido pela ditadura e os poderosos de plantão, mantendo uma admirável coerência que acabou por alijá-lo do meio cultural oficial. Depois de Erico Verissimo é, sem dúvida, o escritor mais importante da história recente do Rio Grande e um dos mais influentes e importantes do país. A ferro e fogo I (Tempo de Solidão) e A ferro e fogo II (Tempo de Guerra) – deixou o terceiro e último volume (Tempo de Angústia) inconcluso – são romances clássicos da literatura brasileira e sua obra-prima, as únicas obras de ficção realmente importantes que abordam a saga da colonização alemã no Brasil.. Dentro da vertente do romance histórico, Josué voltaria ao tema em Camilo Mortágua, fazendo um verdadeiro corte na sociedade gaúcha pós-rural, inaugurando uma trilha que mais tarde seria seguida por outros bons autores. Seu livro Dona Anja foi traduzido para o espanhol e publicado pela Edivisión Editoriales, México, sob o título de Doña Angela.

Josué Guimarães morreu no dia 23 de março de 1986.



domingo, 19 de octubre de 2008

Mate rio-grandense.

(...) Só um pouco de erva. A velhinha foi até o armário de portas envidraçadas, torceu a chave e tirou lá de dentro uma grande lata quadrada. Depois de calcular a quantidade pelo peso, recolocou-a no lugar e fechou novamente a porta.
- Tem menos de um quilo.
- Economizando bem a gente ainda tem erva para duas semanas.
A velhinha retornou ao crochê de lã preta que desenrolava de um grande novelo, engaiolado numa cesta de largas tiras de vime, e que resultara no desfazimento de um velho pulôver. No início do verão ela transformava o pulôver em novelo de lá, e mal o outono chegava a meio, as suas mãos lentas recomeçavam a tecer com paciência. Então ela disse:
- Pena que a gente não possa fazer com a erva o que se faz com a lã.
- Se pode – disse ele sem olhar para a mulher. – O meu falecido pai, na Revolução de 93, junto com mais três companheiros, tomou mate durante um mês inteiro só com um quilo de erva. Depois do chimarrão a erva era colocada num papel e ficava exposta ao sol até ficar bem sequinha. No dia seguinte bastava misturar nela um pouco de erva nova para que o mate corresse a roda.
- Um mês com um quilo de erva! – exclamou a velhinha, incrédula.
- E mais duraria se o inimigo não encontrasse os três no esconderijo e não tivesse passado pelas armas os dois amigos do meu pai. Só pouparam o velho, porque um dos irmãos dele era capitão dos maragatos, portanto merecia misericórdia.
- Já ouvi esta história tantas vezes que até sei tudo de cor.
O velho fez um sinal de enfado. Ela vivia dizendo que conhecia todas as suas histórias. Repetiu a frase de sempre:
- Pudera. A gente está casado há mais de sessenta e oito anos.
- Como se eu não soubesse – disse ela, sempre tricotando. – Dia 10 de março de 1910. Santana do Livramento. Com festa do lado uruguaio, em Rivera...
- Taquarembó – corrigiu ele.
- Isso: Taquarembó. Na chácara do falecido Dom Pepe de Aguilar y Aguilar, nosso padrinho de casamento.
- Que morreu no ano seguinte, de tiro.
- Coitado.
- Coitada é da Dona Mercedes que ficou com doze filhos para criar.
- Naquele tempo até que nem era difícil.
- Lá isso é verdade. Mas, sem querer mudar de assunto: a gente bem que podia tomar um chimarrão agora. Pelo jeito já são seis horas.
- Com a erva que a gente tem, acho melhor deixar o mate para quando o dia amanhecer.

Josué Guimarães, Enquanto a Noite não Chega, Capítulo 1.

jueves, 9 de octubre de 2008

HUBIERA QUERIDO SER UN GAUCHO


"Hubiera querido ser un gaucho y no un hombre de la ciudad. Tengo en mis venas sangre criolla. Soy autóctono puro. «Martín Fierro» y «Fausto» fueron los primeros libros que leí. Los llevaba en el recado, o en el cinto si es que montaba en pelo. A los catorce años escribía versos. Versos o lo que fueran. Luego, ya hombre, concurría a las estancias atraído por el espectáculo de los trabajos de campo. Allí me sentía en mi medio”

Fernan Silva Valdés


imagen: http://letras-uruguay.espaciolatino.com/silva/cartas.htm



viernes, 3 de octubre de 2008

MATE,COMO PÁJARO GUACHO


No sé qué tiene de rudo;
no sé qué tiene de áspero,
no sé qué tiene de macho,
el mate amargo.

El sirve para todo;
para lo bueno, para lo malo;
él lava los dolores del pecho a cada trago;
es un cúralo todo en la casa del gaucho;
alegra la alegría y destiñe la pena,
el mate amargo.
Él es contemporáneo de la bota de potro,
y de las nazarenas, y de la guitarra;
pero de la guitarra que usa cintas
-como las chinas-
cintas celestes o coloradas.

En el campo
no hay boca masculina que rehuse besarlo
ni manos callosas que no le hagan un hueco
al mate amargo.
¡Cómo me siento suyo; cómo lo siento mío,
al mate amargo!
Yo lo llevo disuelto en la sangre
como un jugo americano.

No sé qué tiene de símbolo
el mate amargo;
por el pico plateado de la bombilla
canta de madrugada como un pájaro guacho.

Fernán Silva Valdés

miércoles, 1 de octubre de 2008

CREADOR DE LA NOVELA NACIONAL



“Así, para todos los criollos capaces de empuñar las armas, en el período histórico de que hablamos, en la personalidad de José Artigas de suya dominante, estaba la garantía del éxito; y, aún cuando bajo la presión dura e inflexible del viejo régimen hubiesen halagado ilusiones ardientes hacia el cambio de cosas, su persuasión era la de que sin un hombre de esas aptitudes en el teatro, que él solo podía entonces animar y transformar con su iniciativa de archi-caudillo, habría sido difícil la conmoción y el alzamiento de las campañas.”


Eduardo Acevedo Díaz

escritor, periodista y político


Montevideo 1851-Buenos Aires 1921

http://es.wikisource.org/wiki/Ismael_:_49