sábado, 27 de junio de 2009

Outra canha pa' um viejo

-Pulpero uma canha
Pra o consolo de uma pena!

Que com a ponta da adaga
Una mechita de pelo
Cortó rente al cuero
Hace mucho una güaina.

Desarrollando un bagual
Lá pra ao lado da canhada
havia uma lagoa empastada
Entre seibos e sauzal.

Pois era ainda moço
Quando deu-me o regalo
Que ainda trago entrelaçado
Nas rédeas do bocal.

- Pulpero outra canha!
De bolcar pros costado
Pois a güaina que falo
Me desvia o olhar.

Nem parece aquela
Qual guardei tantos besos
E me jurava com resos
Um amor imortal.

E por culpa da dor
Até o zaino da encilha
Que era florão da tropilha
Deu mancarrón ao enfrenar.

Desculpe a insistência
Deste viejo torena
Mas pulpero outra canha
Pra o consolo de uma pena.

miércoles, 24 de junio de 2009

Chimarrão do Estrivo


Mate do estrivo bendito,
Amargo que a gente chupa,
Já de poncho na garupa
Para a tropeada do mundo,
Algum mistério profundo
Te revirou do avesso,
Porque és doce no começo
E tão amargo no fundo!

Quantas vezes te chupei
Junto ao cavalo encilhado,
Tendo a china no costado
Tristonha na despedida,
Sem pensar - velha bebida! -
Que ao te golpear sem rebuços,
Ia bebendo os soluços
Daquela prenda querida!

Velho mate carinhoso,
Encilhado de erva mansa,
Quando uma China te alcança,
Olhando quieta pra gente,
Deve pensar, certamente,
Que depois de um beijo longo,
O adeus é como o porongo
Que fica frio de repente!

Mil vezes te amanunciei,
No pingo meio oitavado,
Entre um pedido, um recado,
De uma mana ou de uma prenda...
Pois sempre alguém recomenda
Quando a gente é meio novo
Que não se meta em retovo
Junto aos gaudérios de venda!

E depois quando parti-me
Do Pago, campeando a sorte,
Eu te chupei, mate forte,
Bem junto do parapeito,
E fui saindo, sem jeito,
Dando rédeas ao gateado,
Mas te guardarei bem cevado
No porongo de meu peito!

Decerto é por isso mesmo
Que quando evoco a Querência
Eu te sinto, com violência,
Nas veias em atropelo,
E até me ouriça o cabelo.
Pois do meu ser primitivo,
Aquele mate do estrivo
Foi o último sinuelo!

E ao bom Deus que é rio-grandense
Sempre peço, enquanto vivo,
Um chimarrão para o estrivo
Quando chegar o meu fim.
E se Ele quiser assim,
Vá destacando uma china
Que lá na Estância Divina
Prepare o mate pra mim!


Poema de Jayme Caetano Braun,
Foto de Eduardo Amorim.

martes, 23 de junio de 2009

Chimarrão [2]















Amargo doce que
eu sorvo
Num beijo em lábios de prata.
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão
Traduz, no meu chimarrão,
Em sua simplicidade,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão.

Trazes à minha lembrança,
Neste teu sabor selvagem,
A mística beberagem,
Do feiticeiro charrua,
E o perfil da lança nua,
Encravada na coxilha,
Apontando firme a trilha,
Por onde rolou a história,
Empoeirada de glórias,
De tradição farroupilha.

Em teus últimos arrancos,
Ao ronco do teu findar,
Ouço um potro a corcovear,
Na imensidão deste pampa,
E em minha mente se estampa,
Reboando nos confins ,
A voz febril dos clarins,
Repinicando: "Avançar"!
E então eu fico a pensar,
Apertando o lábio, assim,
Que o amargo está no fim,
E a seiva forte que eu sinto,
É o sangue de trinta e cinco,
Que volta verde pra mim.

Poema de Glaucus Saraiva.

lunes, 22 de junio de 2009

Chimarrão

Velho porongo crioulo,
Te conheci no galpão,
Trazendo meu chimarrão
Com cheirinho de fumaça,
Bebida amarga da raça
Que adoça o meu coração.

Bomba de prata cravada,
Junto ao açude do pago,
Quanta china ou índio vago
Da água seu pensamento
De alegria, sofrimento,
De desengano ou afago.

Te vejo na lata de erva
Toda coberta de poeira,
Na mão da china faceira
Ou derredor do fogão,
Debruçado num tição
Ou recostado à chaleira.

Me acotovelo no joelho,
Me sento sobre o garrão
Ao pé do fogo de chão,
Vou repassando a memória
E não encontro na história
Quem te inventou, chimarrão.

Foi índio de pêlo duro,
Quando pisou neste pago,
Louco pra tomar um trago,
Trazia seca a garganta,
Provando a folha da planta,
Foi quem te fez mate-amargo.

Já foi bebida selvagem
E hoje és tradição,
E só tu, meu chimarrão,
Que o gaúcho não despreza
Porque és o livro de reza
Que rezo junto ao fogão.

Embora frio ou lavado,
Ou que teu topete desande,
Minha alegria se espande
Ao ver-te assim meu troféu,
Quem te inventou foi pra o céu
E te deixou para o Rio Grande.

Poesia de João da Cunha Vargas

Foto de Edelweiss Bassis

viernes, 19 de junio de 2009

Meus Mates

Fiz um mate mais comprido
porque sei que ela não vem;
foi daqui a um par de dias,

deixou a casa vazia
e o meu coração também.

Vou gastando os maus momentos
nesses mates demorados;
sem porque, sem um aviso
foi levando o meu sorriso,
os avios, o meu passado.

E eram tantos mates curtos
cevados nas nossas mãos;
seu adeus amarga a vida,
os versos, o chimarrão.

verdes olhos, verdes mates
de quem foi pra não voltar;
flor gaúcha que colhi,
era tão lindo isso aqui.
como vou viver sem par?

Adílson Moura

jueves, 18 de junio de 2009

Roda de Chimarrão


Esquentei a água no fogareiro do boitatá

tô cevando um mate com erva boa da barbaquá.
E vâmo charlando e contando causos que "já lá vão",
é o sabor do pampa, de boca em boca, de mão em mão.

Acendi uma vela, que é pro negrinho nos ajudar,
a encontrar as estórias, porque a memória pode falhar.
E sabedoria é fechar o amargo e viver em paz,
mate e cara alegre, porque o resto a gente faz.

Puxa um banco e senta que tá na hora do chimarrão,
é o sabor do pampa de boca em boca, de mão em mão.
Puxa um banco e senta vem cá pra roda de chimarrão,
vem aquece a goela e de inhapa a alma e o coração.

(...)

(Kleiton e Kledir Ramil)

miércoles, 17 de junio de 2009

ZAMA NO QUERÍA MATE.



"En la tarde siguiente estaba en el salón con una compleja tarea de bordado. Empleaba fragmentos de seda de diferentes colores. Por esto y a causa de que el género excedía en mucho el tamaño del bastidor, exigiendo que alguien lo sostuviese para que no anduviera por el suelo, junto a Luciana encontré a una mestiza.
No importaba su presencia razón suficiente para quitarme ánimos, salvo que sospeché una estudiada estrategia, cuando pasando un rato, otra criada empezó a traer mate con periódica puntualidad.
En la quinta o sexta vuelta de mate me declaré satisfecho, por alejar siquiera una de las vigilantes; pero muy pronto regresó con una jarrita de licor que sirvió en copas diminutas.Como el contenido de cada copita era escaso, lo vacié muy pronto, por tres veces, hasta percibir que eso daba motivos a la criada para ser presentada sin ser llamada a servirme de nuevo.Dejé intacta la última porción y, de tal modo, en algunas inspecciones más,tuvo que persuadirse que no precisaba más de sus servicios".


"ZAMA"
Antonio Di Benedetto
argentino (1922-1976)